Custos e carência de serviços motivam nova onda de aquisições em planos de saúde
Custos e carência de serviços motivam nova onda de aquisições em planos de saúde. O setor de saúde privada no Brasil está atraindo uma nova fase de investimentos. O motor vem da necessidade de escala e eficiência para combater a subida dos preços e ainda de uma carência de oferta de atendimento. Isso faz com que nomes como Intermédica Notredame, Hapvida, Bradesco Saúde e também operadoras de odontologia procurem parceiros interessados em apostar suas fichas no Brasil.
Planos de saúde não vivem seu melhor momento
A caça de ativos, porém, é bem seletiva, uma vez que a saúde privada não vive o seu melhor momento. Encerrou março com 47,7 milhões de beneficiários, quase 1 milhão a menos do que número visto um ano antes, conforme a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Porém, enquanto se identifica a existência de uma demanda não atendida no mercado brasileiro, os custos elevados e dificuldades de gerir a sinistralidade têm feito com que operadoras quebrem e deixem o mercado. Segundo a ANS, são 788 operadoras médicas com beneficiários no Brasil, número que cai ano a ano desde 2001, quando eram 1,4 mil operadoras.
Menos operadoras de planos de saúde
E se depender das negociações em curso, o quadro de operadoras deve encolher mais. Controlada pela Bain Capital, a Notredame Intermédica atraiu grandes seguradoras estrangeiras e investidores estratégicos ao promover um processo de procura por investidores ao mesmo tempo em que tenta a emplacar uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), em um processo chamado de dual track. A ideia de venda da empresa, que tem potencial de movimentar bilhões de reais, parece mais avançada, com os interessados já em processo de due dilligence.
Hapvida – Amil
Um dos players que teria passado para a segunda fase da disputa, conforme fontes, é a Hapvida, conhecida também pelo modelo verticalizado e rede de hospitais próprios. A empresa, que tem sido sondada para operações de fusão e aquisição, teria se unido à chinesa Fosun, que controla a gestora Rio Bravo no Brasil, e oferecido R$ 10 bilhões na primeira fase da concorrência, desbancando outros interessados. Além dela, a Amil, que foi adquirida pela United Health, ainda também estaria na disputa.
Axa Planos de Saúde
Um interessado que pulou fora do barco, dizem fontes, foi a francesa Axa. A seguradora procura um ativo para ingressar em saúde no País, mas até agora não achou algo com preço que considerasse atrativo para tocar a operação. O francês Philippe Jouvelot, presidente da Axa no Brasil, diz que falta no País um produto que atenda a classe média com melhor qualidade e, ainda assim, sem luxo. A quantidade de procedimentos e penduricalhos em termos de atendimento tornam os planos de saúde, conforme ele, muito caros no País. “Não precisamos de um telão para melhorar a saúde no Brasil”, critica ele.
Planos de saúde individuais e familiares
Foram justamente os custos e a forte regulação que levaram grandes seguradoras a sair do mercado de planos de saúde individuais e familiares nos últimos anos. Ficaram famosos casos como o da Unimed Paulistana, que quebrou, deixando o mercado no ano passado. “Existem várias carências no setor, geradas por uma falta da integração entre os diversos tipos de prestadores no atendimento da saúde”, comenta a sócia da PwC especializada em saúde, Eliane Kihara. “Isso faz com que novos entrantes tentem ampliar serviços para ocupar lacunas no mercado”, avalia ela.
Planos de saúde com hospitais próprios
O modelo verticalizado, que integra operadora de saúde e hospitais próprios, é visto como uma das principais saídas para equilibrar essa equação e justifica o interesse de estrangeiros em nomes como Intermédica e Hapvida. “Nosso modelo é menos suscetível a impactos inflacionários da saúde, uma vez que a rede própria permite um custo mais acessível”, diz Jorge Pinheiro, da Hapvida.
O executivo tem afirmado, porém, que uma venda não interessa à companhia hoje. “Ficamos felizes com o eventual assédio que possa haver, mas achamos que podemos continuar contribuindo fortemente com nosso modelo para a saúde como um todo”, garante ele.
Notredame oferece planos de saúde mais baratos
O NotreDame Intermédica alega que esse modelo tem permitido oferecer planos de saúde até 20% mais baratos que outros equivalentes. A companhia reforçou as aquisições de hospitais no último ano, tendo feito seis compras desde 2015, incluindo o Grupo Santamália Saúde, os ativos da Unimed ABC e o Hospital Samci, o primeiro do grupo no Rio de Janeiro.
Além dos negócios de grande porte, especialistas acreditam no surgimento de novos negócios em áreas de tecnologia, serviços médicos de baixa complexidade e todo tipo de atendimento que contribua para reduzir a concentração dos atendimentos na ponta mais cara da cadeia: os hospitais de alta complexidade.
Bradesco planos de saúde
Neste contexto, a Bradesco Saúde teria conversado com a norte-americana Cigna para uma possível parceria no Brasil, de acordo com fontes. Nada foi fechado ainda. As conversas podem explicar o movimento da Bradesco Saúde, no ano passado, de criar um Conselho de Administração separado das demais empresas que estão sob o guarda-chuva do braço segurador do banco.
No entanto, de acordo com o vice-presidente do Bradesco, Alexandre Gluher, tal passo é uma revisão da governança do grupo. “Diz respeito à melhorar a governança da empresa para prepará-la para um mercado mais competitivo”, explicou ele, em recente conversa com jornalistas.
Hospitais de médio porte
A consolidação de hospitais de médio porte é outra aposta. Marcio Vieira, também da PwC, comenta que a formação de grandes players no ramo de hospitais deve forçar os menores a se organizarem. “Os médios devem começar a se aglutinar como forma de adquirir uma certa importância e virar um player atrativo para algum investidor, um fundo”, conclui.
Planos de saúde no Brasil
O mercado de saúde suplementar atende algo em torno 25% da população brasileira, mas há forte desigualdade. Cálculos apresentados em relatório do BTG Pactual com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que planos de saúde são contratados por 83% da população com renda per capita superior a cinco salários mínimos, mas esse porcentual cai para 34% na faixa entre 1 a 2 salários.
A sinistralidade das operadoras de planos médico-hospitalares foi de 86,2% no terceiro trimestre de 2016, conforme levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). O porcentual supera os 84,7% do mesmo período do ano passado.