Cesáreas nos planos de saúde
Nova regra da ANS dificulta cesáreas nos planos de saúde
São Paulo. As novas regras da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de estímulo ao parto normal para os associados aos planos de saúde começam a valer hoje e preveem que as operadoras não serão mais obrigadas a pagar por cesarianas desnecessárias. A medida tem gerado dúvidas em gestantes. Em reportagem veiculada ontem, a gestante Virgínia Carvalho, 36, conta que há quatro meses recebeu o aviso de que a obstetra que a acompanhava pelo plano de saúde não poderia mais atendê-la na hora do parto. Cesárea? Só particular, ao custo de R$ 8.000. “Estou ainda sem saber o que fazer”, disse ela, hoje aos sete meses de gravidez.
A medida visa diminuir o número de cesáreas nos planos de saúde – atualmente, esse índice é de 85%. Na rede pública, a taxa é de 40%. Quem prefere a cirurgia, porém, já sente as mudanças. A principal delas se deve à exigência de os médicos preencherem um partograma, que mostra a evolução do trabalho de parto.
O documento será um dos requisitos para que a operadora pague o médico, além de ser um meio de fiscalizar se a cesárea foi feita sem necessidade. Na prática, a medida acaba por barrar cesáreas nos planos de saúde marcadas com antecedência – o que tem afastado médicos dos planos.
Informada pela médica de que, caso quisesse fazer cesárea, só poderia ter atendimento particular, Virgínia cogitou um reembolso da operadora, que negou a possibilidade. Em uma quase “cruzada” pelo atendimento, procurou então a ANS e o Procon, e já planeja recorrer à Justiça.
Entre outras mães, a reclamação é a mesma. “Se antes era difícil encontrar quem fizesse parto normal pelo plano de saúde, agora é difícil encontrar quem faça cesáreas nos planos de saúde”, conta uma professora universitária, que não quis ser identificada. Ela chegou a pensar em parir em um dos hospitais conveniados – até saber que havia apenas um plantonista.
Desistiu da ideia: vai pagar o serviço particular para a equipe da médica que já a acompanhava no pré-natal. “Essa lei foi proposta para dar liberdade à mulher, mas também tira o direito daquela que quer fazer cesárea.”
Para José Hiran Gallo, do Conselho Federal de Medicina, médicos não podem deixar de atender devido à nova regra. “Isso é abominável… Ninguém é obrigado a ficar na operadora, mas também não pode chantagear a paciente. Não dá para penalizar quem está fragilizado”.